segunda-feira, 8 de novembro de 2010

XX – Não dá

O desjejum foi absolutamente constrangedor. Ninguém conseguiu se encarar, e Dr. Olívio exibia um semblante de quem não estava entendendo todo aquele silêncio.
– Parece que ninguém dormiu muito bem esta noite... – Comentou.

Mas o assunto era completamente fora de hora.


Levantei assim que terminei e me mandei para o jardim. Não queria inventar outra desculpa para pegar o carro do papai, muito embora fosse essa a minha vontade. Lembrei dos breves, porém agradáveis minutos passados com Ariel e Yuri na tarde anterior.


Sentei à sombra de uma árvore, na grama ainda úmida do orvalho da noite anterior, me perguntando qual a probabilidade d’eu esbarrar com eles novamente, por acaso. Será que Yuri levava Ariel todo dia à pracinha para brincar? Ou, pelo menos nos fins de semana?


Mas o que isto me interessava, afinal? Peguei-me repreendendo meus pensamentos, ao mesmo tempo em que os justificava por Ariel ter vindo de bom grado ao meu encontro, preocupada com minha expressão. Tão bonitinha! Imaginei como Nicole deveria apertá-la e abraçá-la. Oh, meu Deus! O que deu em mim?!


Meus devaneios foram interrompidos por um “Posso falar com você?” que eu juro que não fazia questão nenhuma de ouvir. Pêpa aumentava a sombra ao meu redor.
– Eu tenho escolha? – Rebati a pergunta, insinuando meu descontentamento.


– Não! – Ela respondeu curta e seca. – E por favor não dê uma de menina mimada!
– Ah, não contaram pra você? Eu sou uma menina mimada! – Ironizei. – Te decepcionei?


– Escuta, Léo, – ela atropelou meu comentário e se sentou em frente a mim – eu não sei qual foi a maionese estragada que seu irmão comeu pra obrigar a gente a isso!
– Tão sutil! – Eu a interrompi.

Penélope era uma matuta. Como Pedro pôde me achar parecida com ela? Ela nem tem gosto pra se vestir!


Ela bufou, mas não parou.
– Olha, eu tô aqui em missão de paz, tá legal? No mínimo em respeito à Dora e ao seu pai.

Eu resolvi a encarar em silêncio, e não iniciar uma discussão desgastante. Não que eu sentisse algum interesse pelo que ela poderia dizer, apenas não estava com disposição.


– Primeiro quero que saiba que não tenho por hábito me comportar como ontem. Conheço meus limites e não costumo abusar.
– Sorte do mundo, não é? – Eu realmente não estava com paciência para aquilo.


Ela se levantou, provavelmente com a tolerância esgotada.
– Ai, como você é difícil, viu! Ok, estava tentando me desculpar por ontem, mas tudo bem, não vou mais te obrigar a aturar minha presença, tá bom?
– Peça ao Pedro, pois a mim você não deve desculpas, mas agradeço se me deixar em paz.


No momento em que ela se retirava, Pedro chegava ao jardim.
– Sua irmã é intragável. – Murmurou ao cruzar com ele. Mesmo assim, eu escutei.
– Onde está indo?


– Embora!
– Espera! – Pedro pediu. – Me espera só cinco minutos na sala... Pode fazer isso?


Penélope fez uma careta e cruzou os braços, sem humor.

– Por favor! – Ele insistiu.


Pedro olhou para mim, eu nem a esperei sumir de vista para falar:
– Às vezes eu tenho vontade de te dar uma surra, Pedro!
– É, mas não sou eu o que tô de pirraça aqui...


A afirmação dele me fez levantar. Nem no jardim eu teria paz!
– Não, não... Você só é cretino! O que pretendia? Acha mesmo que um fim de semana ia me fazer ver o anjo que você pensa que existe vivendo no coração da sua amiga?
– O que a Penélope te fez pra você não gostar dela?


– Ela me odeia, Pedro! Como você quer que eu goste de uma pessoa que me odeia?
– Ela não te odeia, Léo... Como você é exagerada...


– Não estou exagerando, e ela tem os motivos dela pra me odiar...
– Ah, tem? Que motivos? – Pedro perguntou num tom quase ameaçador.


Eu engoli saliva e por alguns segundos eu não sabia o que responder.
– Por sua causa! Ela gosta de você! Deve ter ciúmes de mim... Nem vejo motivos pra isso, mas ela parece ser bem neurótica.

Pedro soltou um longo suspiro, estava hesitante em continuar aquela conversa.


– Eu... Vou levar a Pê e o Zeca... Mais tarde eu volto pra te buscar. Não é justo que você vá embora agora, seu pai mal teve tempo de estar com você. Mas não vou conseguir convencer Penélope a ficar. E como fui eu que trouxe...
– Não precisa voltar pra me pegar. Eu posso ir de taxi. – É claro que eu disse isso pra fazer manha.


– Como você quiser, Léo... – Ele respondeu sem me dar nenhuma importância.

Eu me irritei ao extremo.


Cheguei a achar que minha cara fosse explodir enquanto ele virava e caminhava para encontrar e levar Penélope para a UFEB.
– Isso! Vai! Passa a droga do domingo inteiro com ela! Aliás, por que você não vai morar na república logo de uma vez?


Pedro parou e pareceu tomar fôlego antes de voltar, com fúria e mágoa no olhar.
– É isso mesmo que você quer?



2 comentários:

  1. Não consigo simpatizar com a Pepernóstica: FATO!
    Fico triste que a tensão entre a Léo e o Pedro só piore! Ç.Ç
    Amo!
    bjosmil! *.*

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  2. kkkkkkkkkkkkkkkkkk, tudo bem queridona, a Léo também não! XD
    É... Essa tensão durou um bocado... =(

    Obrigada, Mitaaaaaaaaaaaaa!

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