sexta-feira, 22 de outubro de 2010

XV – Como assim?

Passei a sexta feira trancada no quarto. Ouvi o telefone tocar algumas vezes, mesmo assim, Pedro respeitou meu espaço, e nem posso dizer que fiquei satisfeita com isso. Estava precisando muito de um colo e tudo que eu queria é que meu irmão me desse o dele.


Só saí à noite porque estava faminta. Pedro estava lavando a louça quando eu abri a geladeira para procurar o que comer.
– Você está bem? – O interesse dele parecia verdadeiro ao perguntar.
Eu apenas acenei com a cabeça.


– Está com fome?
– Um pouquinho...


– Sente-se. Deixa que eu faço uma especialidade rapidinha pra você.

Eu estranhei toda aquela gentileza repentina. Eu era merecedora de seus cuidados novamente? Estava curiosa, mas preferi não perguntar para evitar uma possível nova discussão.


Obedeci e esperei. Ele não demorou mais de 5 minutos para me preparar um sanduíche delicioso de queijo com salada. Depois sentou-se a minha frente e me observou em silêncio enquanto eu comia. Seu olhar contemplativo me deixou estranhamente tímida.


Apenas quando terminei minha última mordida ele perguntou:
– Estava bom?
– Ar-rã...


– Dr. Olívio ligou. – Disse ele retirando meu prato e voltando para a pia. – Chamou para passarmos o fim de semana.
– Ah...


Eu realmente amo minha pequena família. Mas não estava preparada para esse convite. Meu pai com certeza me encheria de perguntas sobre a faculdade que eu não saberia como responder, eu detesto mentir para ele.
– Eu disse que você estava dormindo porque passou a noite estudando.


Pedro voltou a sentar na minha frente na mesa, antes de continuar:
– Ele falou que o David está convidado contanto que durma no quaro de hóspedes.

Meu pai era um cara engraçado. Não era possível que ele achasse que eu ainda era virgem. Mas eu sabia respeitar seu espaço, por mais incompreensível que fosse pra mim.


– Estamos dando um tempo. Talvez você já saiba.
– Eu... – Ele estava visivelmente constrangido. – Não... Não sabia.

Mesmo assim, eu não acreditei.


Pedro ensaiou levantar, talvez tentando fugir daquela conversa. Eu resolvi não facilitar as coisas pra ele.
– Posso te fazer uma pergunta?
– Ãh... Pode...


– Quem era no telefone aquele dia?

Sua expressão mudou. Não propriamente pela minha pergunta, mas por ela lembrar-lhe de minha bisbilhotice.
– O que isso te interessa?


Pronto. Eu já tinha estragado tudo.
– Você disse que eu podia perguntar. Não responda se não quiser.
– E eu só estou te perguntando por que você quer saber. Acho que é um direito meu afinal.


– Apesar de você não acreditar, eu me importo com você. – Disse, ao levantar, fingindo que a resposta dele não me interessava tanto.

É claro que eu me importo com Pedro. Muito. Mas não posso negar que minha curiosidade estava me matando.


Caminhei em direção ao meu quarto. Mas parei quando ouvi a voz de Pedro novamente:
– Era a Pêpa.


Traguei saliva e congelei. Como assim, era a Pêpa? Que conteúdo de conversa era aquele? Eles estavam saindo? Pedro estava saindo com a Pêpa? Ele afirmou que não teria nada com ela!


Respirei fundo e voltei para Pedro. Enchi-me de ousadia para perguntar:
– Vocês estão namorando?
– Não. – Ele respondeu seco e curto e eu ensaiei um alívio momentâneo, pois Pedro completou em seguida – Mas eu convidei ela e Zeca pro findi. Por favor diga que vai se comportar...


Eu me senti sendo tragada por um buraco sem fundo que se abriu de repente sob meus pés.
– O quê?! – Exclamei aturdida. – Então foi por isso toda essa gentileza comigo aqui na cozinha?


Pedro se levantou.
– Não, Léo... Você entendeu errado... Uma coisa não tem nada a ver com outra!
– E eu é que sou baixa? – Eu já tinha perdido o controle. – Vamos agradar a pateta da Léo pra ela não fazer feio com as visitas!


Eu estava com tanta raiva! O sanduíche se revirou no meu estômago.
– Eu te digo Pedro, você vai precisar fazer melhor que isso!


Eu saí batendo o pé, mas antes de chegar ao meu quarto, meu organismo avisou que não iria resistir.


Enquanto estava ali naquela posição humilhante, tentava esquecer o fim de semana infernal que teria pela frente.



2 comentários:

  1. Realmente o Pedro foi totalmente insensível em convidar a Pepernóstica pro findi! AFF!

    Amo mesmo assim!

    bjosmil!*.*

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  2. Ele e sua tentativa inútil de fazer as duas se entenderem... Ou só tava querendo agradar a Pêpa depois daquela conversa ao telefone... Infeliz com certeza! >.<

    Brigada, bjks!

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