terça-feira, 28 de setembro de 2010

IV – David


– Boa sorte, amor! – Desejei ao beijar meu namorado.

Era só um amistoso, mas para David, era sempre caso de vida ou morte.







– Vai assistir da arquibancada hoje, gata?
– Ah, não, amor... Sabe que o sol arruína a minha pele, não sabe? 







– Mas faz bem para os ossos! Você podia ter trazido protetor e um chapéu.
– Não achei nenhum que combinasse com minha roupa... Sabe que só me cuido por sua causa, não sabe? – Não era exatamente verdade. Eu gostava muito de me sentir bonita e desejada. Mas ele também sabia e aceitava meus caprichos.







Desta vez, só estava um pouco mais insistente:
– A Nick sempre fica nas cadeiras mais próximas vibrando com o Neto...

Eu detestei que fizesse isso. Não gosto de ser comparada. Mas gosto menos ainda de discutir com David diante de alguma platéia.
– Amor, estarei vibrando, pode apostar... Sentadinha no bar... Se eu gostasse de suar, seria líder de torcida...







Assisti a primeira metade do jogo no fresquinho que o ar-condicionado proporcionava às instalações internas do estádio, acompanhada de Augusta e Tatá. Geórgia chegou no início do segundo tempo.
– Ual, que máximo ficou seu cabelo, Gê! – Elogiei com sinceridade.







– Achou mesmo? – perguntou insegura.
Geórgia é negra e está sempre travando uma luta com seu cabelo. Eu já cansei de dizer pra ela que o melhor é assumir os cachos e cuidar deles, fazer tranças ou dreads. Fica muito mais bonito e natural do que fazer alisamentos que parecem mais perucas enormes e cafonas.
– Claro, querida! Sente-se.







– E aí? Quanto tá esse jogo? – Ela perguntou se ajeitando na cadeira.
– Zero a zero... – Respondeu Tatá com descaso. Muito provavelmente ele gostava tanto de futebol como nós.







Mas eu precisava marcar minha presença, como namorada do capitão do time. Tatá e Geórgia estavam lá para me fazer companhia, e Augusta... Eu não faço idéia. Talvez ela achasse que desfilar com o Pedro iria lhe dar algum status. Se bem que em dias de jogo, ele mal lhe dava atenção.






David é atacante. Sem falsa modéstia, é um dos melhores em sua posição. Não que eu entenda muita coisa de futebol. Mas lia os artigos, precisava me manter sempre interada sobre tudo, muito embora minha popularidade muitas vezes fizesse isso sozinha.






Juntos, éramos o casal mais conhecido da UFEB, apesar d’eu ainda ser uma caloura. Começamos a namorar antes mesmo do meu ingresso na faculdade. Ironicamente, foi Pedro quem me apresentou David, na primeira vez que o levou na casa de papai.






David disse que se apaixonou por mim no segundo em que me viu, e colocou na sua cabeça que me conquistaria. Ele não teve muita dificuldade, pois fiquei empolgadíssima com aquele tom chocolate de sua pele, e pela forma atlética que seu corpo exibia mesmo coberto de roupas.






Em menos de uma semana estávamos juntos. Ele sempre era romântico e atencioso, então eu não me incomodava que ele me exibisse no Campus como um de seus troféus.






Além do mais, nossos corpos se encaixavam tão perfeitamente que era difícil me concentrar quando ele se apresentava em trajes menores ao meu lado. Que bom que o uniforme do time não era nada atrativo.






– Nossa, que chato, heim! – Exclamou Geórgia, desculpando-se logo em seguida. – Sorry, amiga... Só venho por sua causa...
– Eu sei. Só estou aqui porque preciso afastar as moscas de cima do meu namorado.







– Por falar em moscas... – Disse Guta, observando as cheerleaders que passaram em direção ao bar. – Essa ruiva não me desce na garganta! Vive se pendurando no Pedro...

Bem, não era só ela, e não era só com o Pedro. Mas deixei pra lá. Meu problema mesmo era com a morena, que estava sempre rondando o David.







– Poxa, Léo... Seu namorado é um Deus e faz tudo por você! Você devia dar mais importância pras coisas que ele gosta também. – Tadeu falou consternado.
– Tatá, sério! – Eu respondi convicta. – Esse tipo de observação pega mal...







– Credo! Desculpe, Léo... Não mais aqui quem falou, tá? – Disse afetado.

Tatá ainda era virgem aos 19 anos. Isso não é muito normal. No fundo acho que ele ainda não tinha decidido qual a sua preferência.







Quando o jogo terminou eu fiz uma careta e enfrentei o sol, para encontrar meu namorado no gramado.
– Você foi perfeito, como sempre, David!
– Nós perdemos de dois a zero, Léo!

Oops!







– Ah, então a culpa é do Neto! Ele que é o goleiro!
David bufou:
– Você não entende nada de futebol, né, minha loira?







– Ei! Não coloque a culpa no meu namorado, não! – Reclamou Nicole em tom de brincadeira... – Gente, foi só um amistoso, não é o fim do mundo!

Mas para David parecia.







Pedro passou por nós, mas não parou. Por um momento quase não resisti à tentação de olhar para a expressão de Augusta. Mas fiquei com medo de rir, então procurei saber mirar para onde estava se dirigindo.






Primeiro identifiquei o Zeca, de braços abertos para receber o amigo num abraço consolador. Atrás dele, sua irmã, Penélope, ou Pêpa, como Pedro sempre a chamou. Eu a encarei. Ela me encarou de volta. Agora tinha certeza de seu segredo.





2 comentários:

  1. O que dizer? Eu também gosto de chocolate... Mas daí a se apaixonar pelo tom de pele?! Atração é inegável entre os dois, mas aparentemente vivem só de aparências! rsrsrsrsrsrsrs
    bjosmil! *.*

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  2. É, queridona, uma relação superficial... Até onde ela vai?

    Obrigada demais, Mita! *-*

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